Batman: um andarilho dardejante e a Atenção Psicossocial

Autores

  • Marcela Pimenta Muniz
  • Ana Lúcia Abrahão
  • Cláudia Mara Tavares

Palavras-chave:

Saúde Mental, Arte, Serviços de Saúde Mental.

Resumo

Este estudo objetivou discutir os desafios e possibilidades para a produção do cuidado ao portador de transtorno psíquico com comportamento andarilho a partir do regime ético-estético. Abordagem qualitativa por meio da observação participante e diário de campo com referencial sociopoético. O participante foi um usuário do CAPS no Rio de janeiro, identificado na pesquisa como “Batman”. É um jovem de 20 anos que tem uma forte relação com ideações de ser super-heróis (delírio de grandeza) e um plano de ir para a cidade de São Paulo. Possui um comportamento andarilho que pode colocá-lo em risco, pois tem histórico de sair e por vezes com dificuldades de encontrar o caminho de volta para sua casa. O movimento andarilho parece ser mais do que ir para um lugar, mas ele próprio – o movimento – parece já ser o cenário em que Batman encontra sua intensidade. Errante. Os resultados da pesquisa ganharam força pelo uso de poesias e músicas. Procurou-se dar espaço para a intuição, que remete às criações, ao pensamento que foi produzido pelo sensível no processo de produção dos dados. Para cuidar de Batman sem retirá-lo de sua autonomia e sem expô-lo a riscos, é preciso que seu projeto terapêutico esteja dentro de seu projeto de vida. Neste sentido, um movimento mais autopoiético do que psiquiátrico é que nos aponta o caminho para que se sustente uma vida que se dá no descaminho, como é o caso de Batman.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Organização Mundial da Saúde. Relatório Mundial da Saúde: Saúde Mental. Edição Eletrônica; 2013.

Conejo SH, Colvero LA. Cuidado à família de portadores de transtorno mental: visão dos trabalhadores. Rev. Mineira de Enfermagem. 2005; 9(3): 206-11.

Goffman E. Manicômios, Prisões e Conventos. 7ª ed. São Paulo: Perspectiva; 2005.

Amarante P. Loucos pela vida: a trajetória da Reforma Psiquiátrica no Brasil. 2ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2016.

Jacobina RR. O manicômio e os movimentos da reforma na psiquiatria: do alienismo à psiquiatria democrática. Saúde e Debate. 2000; 4(54): 90-104.

Gauthier JHM. Sociopoética: o livro do iniciante e do orientador. Edição Eletrônica; 2009.

Rancière J. A partilha do sensível: estética e política. 2ªed. São Paulo: Editora34; 2014.

Gauthier JHM. Sociopoética: encontro entre arte, ciência e democracia na pesquisa em ciências humanas e sociais enfermagem e educação. Rio de janeiro: Editora Escola Ana Nery/UFRJ; 1999.

Deleuze G. Diferença e Repetição. Rio de Janeiro: Graal; 2006.

________. Conversações. São Paulo: Editora 34, 1996.

Lourau R. Implication et surimplication. Revue du MAUSS. 1998; 10.

Machado R. Deleuze, a arte e a filosofia. Rio de Janeiro: Zahar; 2009.

Gabriel P. Eu me chamo Antônio. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca; 2012.

Ferreira, ABH. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5ª ed. Rio de Janeiro: Positivo Editora; 2010.

Ferraz F. Andarilhos da imaginação: um estudo sobre os loucos de rua. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2000.

Guattari F, Rolnik S. Micropolítica: cartografias do desejo. 5ª ed. Petrópolis: Vozes; 1999.

Kantorski L, Pinho L, Souza J, Mielke F. Resgatando Ações de Enfermagem Psiquiátrica e Saúde Mental na Produção Científica. Cogitare Enfermagem. 2008; 13(1): 109-17.

Rotelli F. A instituição inventada. In: Nicácio, F. (Org.) Desinstitucionalização. São Paulo: Hucitec; 2001.

Yasuí S. A produção do cuidado no território: “há tanta vida lá fora”. Brasília (DF): Edição Eletrônica Ministério da Saúde (BR); 2010.

Koda MY, Fernandes MIA. A Reforma Psiquiátrica e a constituição de práticas substitutivas em saúde mental: uma leitura institucional sobre a experiência de um núcleo de atenção psicossocial. Cad. Saúde Pública. 2007; 23(6): 1455-61.

Downloads

Publicado

2017-12-01