2025: Se eu pudesse... falaria onde dói

A medicina veterinária é feita de ciência, técnica e estudo, mas também de humanidade. Este livro não é apenas sobre casos clínicos, diagnósticos e tratamentos. É sobre o que acontece nos bastidores da profissão: o peso das decisões, os dilemas morais, o aprendizado constante e as cicatrizes invisíveis que carregamos ao longo da jornada.

Escrevo estas páginas não apenas como veterinário, mas como alguém que viveu intensamente cada história narrada aqui. Durante minha residência em Cardiologia e Doenças Respiratórias, no primeiro ano de um programa desafiador, vi de perto o impacto do descuido, da falta de informação e, muitas vezes, do amor mal orientado. A sala de cardiologia, localizada estrategicamente na porta de entrada do hospital, era o palco diário de emergências que testavam nosso preparo e, acima de tudo, nossa resiliência.

A relação entre tutores e seus animais é, sem dúvida, uma das conexões mais belas que podemos testemunhar. Mas, como tudo que envolve amor, também traz consigo falhas, arrependimentos e despedidas dolorosas. Vi tutores implorando por uma segunda chance que nunca chegaria, lágrimas de culpa escorrendo por rostos que, até minutos antes, não imaginavam que poderiam perder o que mais amavam.

Este livro é um reflexo dessas experiências. Ele nasce do desejo de compartilhar não apenas o lado técnico da profissão, mas os momentos que nos transformam enquanto veterinários e seres humanos. Aqui, você encontrará histórias de luta, de perda, de aprendizado e, acima de tudo, de respeito pela vida.

Que estas páginas sirvam como um convite à reflexão. Que os tutores se conscientizem do impacto de suas escolhas e que os futuros veterinários se preparem não apenas para salvar vidas, mas para carregar o peso daquilo que não pode ser salvo. A medicina veterinária é feita de ciência, mas também de coração – e, algumas vezes, de cicatrizes que jamais se fecham.